Aquele cheiro tem invadido minha rotina.
Nos momentos menos oportunos, lá está ele, entrando pelas narinas, alcançando minhas massa encefálica sem ao menos pedir licença, sem pudor. Alarmada, perco a fala e tento entender o que é aquela sensação. Quando vou ver, ele já foi embora.
Um vento bate e logo o traz de volta. Olho para os lados: de onde vem esse cheiro? Não é das pessoas ao redor, não é da comida ou do cigarro. Nada adianta, ele já passou.
E sempre que vem, vem com ele o aperto no peito que, bem ou mal, dá aquele furacão de sentimentos e sensações que as palavras nunca puderam conter.
Por vezes me pego a pensar no cheiro e nada dele vir. É sempre quando menos espero. Assim, de supetão, um soco no nariz, daqueles de deixar tonto.
As pernas bambaleiam e o coração vem até a boca, querendo fugir! Mas o que pode ser isso? Que cheiro é esse? O que traz consigo é o inenarrável, o inexorável, o imprescindível, o inesquecível. Do tipo que a gente sabe que é, mas não sabe o que.
Conecto-o a pessoas, momentos, objetos, lembranças. Nada, nem pista.
Às vezes quando mordo um pedaço da fruta mais fresca o cheiro vem, invade minha mordida, me tira o gosto da fruta e me embrulha o estômago.
Peço ao dono do cheiro que venha buscá-lo. Tem dado-me muito trabalho, maus dos bons momentos.
E se for pra vir, peço que venha com tempo, tome um café e coma uma torta. Se quiser, tem lugar na garagem para o seu carro passar a noite. Assim conversamos com calma, tiro minhas dúvidas, suas roupas. Se convir, tiro até aquele vinho que envelhece mais no meu barzinho do que o fizera na adega.
Com um pouco de calma, podemos eliminar os vestígios do passado, mas o cheiro que lembra sempre será lembrado.
E eu aqui, tentando entender o que me faz ser algo de
diretamente oblíqua.
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