sábado, 9 de novembro de 2013

Em processo de reticenciação


Será que você se importaria?
Uma ligação assim, no meio da tarde. Ligação que invade, fechando seus olhos antes de atender.
Será que você acharia ruim?
A campainha da sua casa tocando e o coração disparando nos segundos que se passam entre atender o interfone e abrir o portão. Isso sem contar aquelas libélulas no estômago.
E se eu te mostrasse as verdades minhas?
E se eu te contasse que toda vez que estou indo para casa penso em parar naquela esquina, chamar seu nome, ver se você está bem, o que tem feito da vida.
Um último samba. Um samba assim inocente, com o rosto colado, o corpo suado e umas notas a mais. Certamente o sorriso no rosto vem para disfarçar a indecisão de onde colocar as mãos.

É, o tempo está passando e enquanto apaga uma memória, vez ou outra reinventa o sentimento. Sentimentozinho chato que passa suave por entre as lembranças e arde um pouco quando chega na palavra amanhã. Como quem não quer nada, estica um pouco a linha da distância e quando está por apenas um fio, resolve puxar de volta, reaproximar. Em pensamento, claro: o encontro é para os fortes. Eu sou fraca, aquela que finge que esqueceu por medo de enfrentar. Porque quando bate de frente, faz perder o tempo, o rebolado, preciso começar tudo de novo para conseguir encaixar na melodia. A boca fica seca, os olhos brilhantes.

Sabe, estou bem! Melhorei daquele resfriado e a alimentação. Até entrei na academia! Perdi uns quilos e uns livros na mudança. Dei férias para o espelho e os produtos de beleza, ando muito mais confiante. Mas sabe quando alguma coisa ainda falta? Não sei se é a fritura ou o refrigerante que foram dispensados, mas logo acostuma. Logo passam essas crises de abstinência e a continência fica mais fácil, mais viável. Perdi a cabeça algumas vezes, fiz umas loucuras. Você ia gostar de saber.

E você? Como vai essa vida? Tantas coisas a serem ditas e relembradas. Até quando isso vai acontecer?
Espero que não se incomode se um dia eu tocar a campainha para calar a sua boca com a minha.

Boa parte disso tudo pode ser exagero nosso acompanhado da idealização do que não se completou.

Francamente.

5 comentários:

  1. Senti até um aperto no coração quando li esse texto... Não sei pra quem ou porque foi escrito mas me pareceu uma despedida para uma pessoa que já não faz mais parte do seu coração, ou faz e você o quer longe.

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    1. Relendo este escrito pude perceber que faz sentido isso que você diz. Ele "palavrifica" uma sensação momentânea minha, mas foi escrito mais no plano artístico do que no concreto. Um eu-lírico meu falando de mim por um instante.
      Puxa, só fui achar esse sentido depois de ler seu comentário e então reler o texto.
      Obrigada!

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    2. Que bom que você abriu um novo olhar pro seu próprio texto, fico feliz pelo sua resposta. E não, eu é quem agradeço por escrever textos maravilhosos no seu blog.

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  2. Ahh, e lendo esse texto me veio a cabeça uma música, espero que goste.

    http://www.youtube.com/watch?v=qw7TQ2guAcc

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    1. Obrigada! Gostei muito da música, dá uma tristeza boa, mostra a aceitação do tempo como um solvente para as dores do coração. E ele canta bem suave, como o tempo deve ser.
      Apareça mais com boas indicações!
      Agradeço sempre!

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