As situações mais obscuras vem nos falar de algo curioso.
Na parede da cozinha alguém escreveu: "É necessário sair da ilha para vê-la." Aos acadêmicos: não, não cita a autoria, mas me parece que Saramago fala algo semelhante.
É de algo assim que se alimentam as relações humanas. De fora a gente compreende melhor. Quando se distancia a gente pode ver a coisa mais próxima do que ela realmente é, não do que queremos que ela seja.
De alguma forma, a aproximação nos faz ver retalhos, nunca o conjunto inteiro. É importante sair de perto, dar uma volta, respirar fundo e, lá de longe, do outro lado do mundo, olhar novamente.
É desse olhar que precisamos às vezes. Ver os olhos e os pés ao mesmo tempo. Não somos somente mãos ou somente ombros. Somos um corpo uma alma e um espírito, cada um de nós. E sem perceber, juntos, constituímos algo muito maior do qual não podemos nos distanciar o suficiente para ver.
Não, eu não tenho autoridade nem possibilidade alguma em meio a isso tudo.
Sou mais uma entre tantos com mãos atadas. Uns porque convém, outros porque não percebem e só reproduzem aquilo que lhes é dito. Mas outros, assim como eu, nos são dadas todas as ferramentas e meios, ao mesmo tempo que nos amarram em uma cadeira sentados na frente da pia que pinga e molha a parede que mofa e apodrece. É dessa podridão que resta o resto.
Enquanto isso todos são humanos demais para tomar qualquer rumo por si.
Dói aqui, dói ali, dói acolá. Nada vem do nada, diria o poeta. Diria, mas nem ele nem eu. Ele porque morreu, eu por não saber estar viva. Aí fica aquele silêncio chato que lateja no estômago ou em volta dele, que faz a gente abrir o olho de dentro e fechar o olho de fora. Situação desesperadora.
Não se afunde nas areias brancas e coqueiros altos da ilha. Transmorfique-se em líquido e vai escorrendo, saindo pelo ladrão até que coisa alguma diga respeito a você.
Ai sim, talvez, você encontre o caminho, embora isso não signifique necessariamente que saberá ou terá coragem de percorrê-lo.
Nem eu, nem você. Ninguém é dono da razão nem da sensação. Mas as atitudes quem define é o macaco com o macaco, nenhum outro animal.
Essa é a hora de parar um pouco de ser o "outro" na sua própria vida. Sair da rede e tomar as rédeas.
Vai, vai! Chispa! O mundo tá girando e você não vai contra nem a favor, só se deixa ser girado.
A terra come gente e quando menos espera só tem minhoca passeandoo pela sua cabeça.
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