terça-feira, 7 de abril de 2020

Diário de quarentena #2

Acho que foi uma boa ideia criar um espaço para escrever sobre o que penso e sinto nesse momento. Passei o dia vivendo as experiências e pensando em como ela ficaria escrita aqui. Vejamos...

Eu sei da saudade que sinto pela distância que estamos. Do quanto penso em vocês todos os dias, a todo momento. Penso no que estão fazendo, se estão entrando em desespero, aterrorizados. Sobre o que têm conversado e com que frequência têm sorrido? Sempre disseram que eu era a alegria de casa, que a casa era silenciosa sem mim, imagino que o silêncio esteja mais pontiagudo nos ouvidos agora.
Um grande vazio atordoa o futuro. Isso realmente está acontecendo? Já começou? Quanto tempo? Quantas pessoas? Quem, dos que eu amo, vai partir? Nada. Branco. Vazio.

Se antes me angustiava ter que fazer planos e não saber onde quero chegar, estou agora no total oposto: não sei quanto tempo vou durar, não sei por quanto tempo posso contar com as pessoas ao meu lado e isso também é angustiante. Existe um ar muito mórbido pelas ruas da cidade, ainda mais com tudo fechado e com avisos sobre a pandemia, os decretos e as frases que terminam com o termo "tempo indeterminado".
Essa é a semana do pico e, tristemente, coincide com a semana de pagamento. As pessoas não sabem hibernar como ursos, queremos consumir e fomos programados a comprar seja lá o que for assim que cai o salário. Semana do pico de contaminação e a fila do banco passava de 100 metros na calçada., não havia vagas para estacionar o carro, as pessoas estão insanas. As pessoas vão chorar muito.

Tive sorte, antes da cidade fechar a rodoviária e proibir a entrada pelo mar, Matheus, o amor da minha vida conseguiu chegar na minha casa. Não estou sozinha. Ele está aqui há 3 semanas e já faz parte da mobília. Não faz sentido que não esteja. Mas agora sente falta de sua família, deseja partir para sua cidade natal no interior de São Paulo e está começando a se movimentar para fazer isto em breve. Não consigo imaginar como seria estar em casa sozinha nesse momento.

Me assusta ver as pessoas equipadas para o atendimento em saúde, profissionais amedrontados, com aparato de segurança (às vezes), ninguém se toca ou se abraça, mal chega perto e quando chega causa incômodo. Se fala disso em todos os lugares, não da para ficar 5 minutos sem pensar nesse assunto. Passo fingindo que não está acontecendo nada, tocando violão e fazendo piadas e poesia, mas a verdade é que quando eu paro dói e não é pouco.

Gostaria de escrever sobre as gaivotas que tenho observado no caminho para o trabalho. Ainda vou falar sobre elas.

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