sexta-feira, 8 de março de 2024

Estou me sentindo só e a solidão leva meu pensamento até você ou o que eu construí sobre você. Não é tudo o que você é, mas uma face, uma parte, um resquício... É também, mas não só..
E me importa pouco o que é a realidade porque eu gosto mesmo é do mistério. E porque a o impossibilidade da concretização nos permite abrir mão de nossos defeitos e faltas. 
Essa hipótese de algo que nunca acontece sana temporariamente a minha solidão, mas tão logo desligo a tela, ela volta e abre um pouco mais esse buraco no peito.
Sem vez para o desejo, volto a tomar banhos gelados e imaginar seu rosto no desenho da relação perfeita que criei. 

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Pula a onda e mergulha
Que falta fazem as estrelas no céu
Mas a lua, quando cheia,
Ilumina o mar
Parece um manto branco imenso
Inocente
Inofensivo
Mergulha profundo, imagina baleias
Se desloca no tempo das coisas que não se diz
Se solta dos ramos de algas que enroscam nos pés.
E deixa vir, deixa ir
Um corpo ali, uma alma aqui

Nessas noites de solidão
Não tem coisa mais bela do que o mar

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Pessoa Fernando

O poeta não é fingidor

Essa dor, ele deveras sente

Se pudesse fingir dor

A sentiria eternamente?

Sem cor, sem sabor, sem nada.

Estou sem paciência para vocês.

E para mim e para as minhas memórias. Só me resta o silêncio das coisas que não digo.

As grito, por isso ficam incompreensíveis.

Me perco, esqueço, confundo, desfaço. Pareço e estou sempre por um fio.

Dizem que qualquer vento me derruba, torcem o nariz. 

Digo mais: já estou caindo, embora as folhas das árvores pareçam imóveis e sem cor.

Sem sabor, sem sorriso, sem perspectiva. Parece que o fim de tudo vai dar na mesma, não importa.

Todos vamos virar comida de minhoca, não é mesmo? Então tanto faz.

Morrer me assusta, desespera. O que parece não ter graça é o que vem antes.

Daí de onde você me olha, parece que o fio aguenta ou arrebenta?

Pareço apresentável ou miserável?

E você, o que tem feito para se adequar? Se adequar tem tido qual efeito em você?

Deixa essa de presente. Por favor, cale-se. Me deixe calar.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Válvula de excessos (sem revisão)

Queria aprender sobre os excessos de quem não se permite perder o controle. Onde aparece aquela insegurança de falar em público, de ser julgado, de ser descoberto no seu desejo mais íntimo?

Vejo o respeito indissolúvel às regras e me questiono: seria traço de psicopatia, ansiedade ou passividade? Nenhum desejo excuso? Nem um minuto de atraso? Nenhuma vontade de ir e não voltar, uma atitude impulsiva? O que comem? Onde vivem? Onde estão seus excessos?

Será que sou eu um excesso de alguém? 
Será que seria comigo o atraso na manhã de segunda, com cabelo desgrenhado e cama bagunçada? Seria eu um dia o motivo de esquecer a marmita na geladeira de casa e o desejo de largar tudo que passa em alguns minutos? A fissura na rotina, o não-óbvio. 

Me interrompa. Estou aguardando.

terça-feira, 16 de maio de 2023

A poesia de outra sociedade.

 Será que as pessoas de outra sociedade choram de felicidade?

Será que choram as pessoas de outra sociedade?

Será que quando entristecem e deprimem, pensam em suicídio?

O ato revolucionário maior contra o sistema: não sou mais produtivo, não sou mais consumidor. Fui consumido pela dor. 

Será que suicidam? 

Como sentem? Como se sentam à mesa do café? 

Será que tomam café? Será que falam mal do chefe?

Será que tem hipocrisia em outra sociedade?

Será que têm problemas para perceber a saciedade?

E a poesia? Para que serve a poesia em outra sociedade se nem hipocrisia, nem café, nem suicídio, nem choro tem?


quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Monólogo imprevisto

O sentimento de insatisfação é constante, mas no fim do dia a gente acha que sente alegria.
Dizem que uma mentira contada mil vezes passa a ser verdade né? Eu nem sei mais se o prazer que finjo sentir é ou não o prazer que deveras sinto. 
Metalinguageando, que tédio... Nem eu aguento mais essas minhas reticências, imagino o leitor.
Quem me escuta talvez preveja as pausas, os aumento de tons. É que faz tempo que eu trabalhei as intenções da minha vida, hoje eu sigo reproduzindo o que criei lá atrás. Tem gente que diz que estou colhendo os frutos. Risos. Quanta besteira, quem disse que eu plantei pomares? Acho que sempre fui mais adepta de cactos e samambaias (até esses têm frutos?) - costumavam morrer menos quando eu desistia, suportavam até a minha próxima temporada.
Clarice passou por aqui com sua suavidade... Olha aí as reticências. Que tédio.

Não da tempo de esmorecer.

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