
Ele já não se lembrava mais por que havia se apaixonado por aquela velha enrugada, rabujenta, doente, hipocondríaca e inexpressiva.
Tentou um dia dar um beijo em sua boca para relembrar, pela última vez, os tempos de luxúria e amor. Uma última vez antes do triste final tardio. Para lembrar-se dos filhos que havia feito com ela e de tudo que já havia conquistado.
E durante a despedida nostálgica, surge um sorriso na boca dela. Uma lágrima faz os olhos brilharem novamente. As covinhas em suas bochechas o remetem à primeira vez que tocaram-se aqueles lábios. Sentiu saudade e uma vontade enorme de reconhecer aquela alma que ele mesmo havia prendido em seu castelo escuro e sombrio, ocupado apenas pelo orgulho e a carência oculta.
E ele percebeu que ela sempre foi linda.
Ele era quem a havia murchado e coberto com uma máscara de tristezas.
Um beijo bastou, lembrou-se da paixão. Decidiu viver com ela tudo o que aqueles 25 anos de dívidas, problemas e fraldas não permitiram e viu que ela era linda quando ele a queria linda, e feia quando a queria dominar.
"Sou um pássaro, me trancam na gaiola e esperam que eu cante como antes."
Legião Urbana - Clarisse
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