sábado, 5 de março de 2011

E ela se viu ali, parada, frente à porta, sem reação!
Em sua cabeça, tantos pensamentos a impediam de ver a real situação. Ensaiava o que tentaria dizer, ao mesmo tempo que se preparava imaginando todas as reações que podia.
Em uma das mão segurava flores e suor, a outra, inquieta, cerrava o punho e limpava o suor da testa. Suas roupas mais comuns, o perfume de costume e uma ajeitada no cabelo.
Sorria, às vezes ficava séria e apertava com força os dois punhos, como quem fosse jogar as flores na porta e ir embora. Mas logo sorria de novo, imersa em sua imaginação.

Como falar mais do mesmo de sempre? Por que esperar uma outra resposta? Por que para ele o sentimento era sempre o mesmo e nada o faria mudar de idéia? Por que era tão óbvio para ela que quando se ama devemos aproveitar cada segundo e isso simplesmente não passava na cabeça dele?

Tomou uma dose de coragem. Abriu a porta, deixou as flores no chão. Queria ficar aquela noite ali, como foi na noite anterior. Depois de tantos carinhos e gemidos, havia saído pela manhã, deixando um perfume no ar e uma lembrança no sorriso que carregou o dia inteiro. Ele a recusou dessa vez. Não fez mensão de reflexão, apenas disse que já estava cansado e era melhor ela ir para o seu próprio leito.
Ela só queria conversar. Dependesse dela a conversa duraria muitas horas, dias, semanas, meses... Todo o tempo do mundo que pudesse ficar ao lado dele. Mas não, sabia que ele a queria fora dali.

Pediu explicações. Por que? Por que em uma noite tudo acontece e no dia seguinte um beijo, um abraço são demais para aqueles amantes? Por que não tentar aproveitar o pouco que ainda resta do tempo que se arrasta e leva embora todas as carícias e sorrisos? Por que não simplesmente não estar lá, de olhos fechados, simplesmente sentindo? Era intenso demais, simples demais.

Durante todos os meses que estiveram juntos, as desconfianças dela sempre a fizeram chorar pelos mesmos motivos: ele ainda vai se interessar por outra. É sempre dia de vê-lo se apaixonando e não a querendo mais. Todas as mulheres. E dava uma tristeza, um sentimento de humilhação. Até que conversando com as palavras mais rudes ele a convencia de que era a única, de que não havia nenhuma outra, de que conversas de mesa de bar não o fariam olhar para as todas tão parecidas com todas as outras. Era ela! Ela era especial!

E demorou um tempo até passar a ignorar os sentimentos de ciúme e possessão. Convencida, abriu bem os olhos e decidiu que não importava o que visse, não significava nada, pois era ELA! E foi em frente ao lado dele.

Duas semanas depois de tapar os ouvidos para as vozes que a atordoavam de dentro, ele a diz que prefere toda e qualquer outra.
Não há palavra que descreva o sentimento. Não há mais nada, apenas sentimento.

Ressentimento, saudade do que nunca conseguiu tirar dele, vontade de provar o gosto de tudo o que ainda viveriam juntos. E as palavras mais rudes novamente invadem os seus olhos, debulhando-os em lágrimas e dificultando tudo.

Foi para seu quarto, derreteu os últimos minutos sem entender, pensando somente que já era velha demais para aprender a lidar com essa rejeição.

Ninguém a ouviu chorar tão baixinho, soluçava tanto que se alguém visse teria medo e dó da epilética em crise.

Colocou uma boa música de amor e se matou.

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