
É quando a nostalgia nos faz chorar e no peito fica um sentimento de derrota.
Desistência.
Aí você olha as fotos, os instrumentos, os sons, as músicas... Tudo.
E dá um aperto, uma vontade de voltar no passado, de viver só mais uma vez cada segundo, cada momento...
Andar de skate e ralar o joelho. Só mais uma contusão.
Um jogo de handebol na escola, um "filho da puta" na direção do juíz, que é o menino bonito do outro ano...
Uma última canção com a banda de punk, com a banda de rock e com os amigos da rua.
O último primeiro beijo, escondido da mãe, do pai, do irmão, da diretora... Um último beijo inocente, apaixonado e envergonhado.
Só mais uma vez ter nojo de sexo e de meninos.
Depois chamar a diretora de bruxa e ir para a diretoria com advertência pela última vez.
Tomar o primeiro porre e levar broncar, mas em seguida dar risada das besteiras que fez e falou, só mais uma vez.
Usar roupas largas, tenis de skatista, boné na cabeça e falar palavrão, mesmo sem entender o verdadeiro significado, como se soubesse muito bem quem é e o que está fazendo. Como se ninguém pudesse derrotá-la.
Só mais uma vez poder chorar porque a mãe não a deixou ir a um show, só porque o lugar era perigoso e ocorriam vários sequestros, além da correria de ter que falsificar documento para entrar...
Só mais uma vez não ter medo, não precisar pensar nas segundas intenções de quem a cerca, poder achar que o mundo vai acabar quando ele olha para ela e diz "oi", tímido e forçado; aí sentir o coração bater apertado.
Só mais uma vez praguejar e protestar, ir a uma manifestação contra a comodidade conservadora, realmente acreditando que pode mudar o mundo.
Aprender a lutar achando que terá assim controle sobre todas as situações. Pela última vez.
Só mais uma vez esquecer a prudência.
Porque a prudência, meus caros, é só a tradução do nome de uma marca de preservativos.
(Risadinhas cheias de uma inocente malícia e uma infantil vergonha)
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