Porque as coisas têm que ser assim?
Hoje estava voltando para casa. Entrando no ônibus, sentei ao lado de uma idosa. Seu sorriso e resposta ("-Toda") quando lhe pedi licença para sentar, me fez observar mais minunciosamente à minha volta naquele momento.
Senhores e senhoras andando tão calmamente, com olhar de satisfação, algo de alegria em seu andar. Eles, que tanto fizeram, que lutaram na guerra ou perderam pessoas por conta disso, que foram torturados pela opressiva ditadura, que tiveram de despedir-se de antigos amores por conta do tempo, por conta de outros fatores. Eles, que talvez não falem Inglês, que não têm sequer ensino médio e formação superior. Eles, que não têm um Ipod, Mp3 ou Palmtop...
Eles, que tanto fizeram para que chegassem vivos aonde chegaram, agora andam distribuindo sorrisos e "por favores", "obrigados", "deus lhe abençoes". Eles andam calmamente na cidade, olhando as vitrinas, tomando sorvete, comprando quadros e doando roupas.
Alguns abrem seu próprio negócio. Vendem doces, pastéis, roupas, colares, pulseiras e até salgadinhos caseiros. Outros preferem não se expor: compram uma casa no campo. Grande o suficiente para caber em seu fundo de garantia e para que caibam todos os filhos, filhas, netos, netas, genros, noras...
Esses velhinhos e velhinhas andam pela rua apenas admirando aquilo que construiram. Afinal, não fosse pela voz que tiveram todos juntos, não haveria hoje liberdade de expressão, não haveria nada.
E nós, nos matando para ser sempre uns melhores do que outros. Fazendo cursos, fazendo cada vez mais dinheiro. Passando sempre com pressa. Pelo morador de rua, pelas flores, pelas crianças em orfanatos. Sempre com medo de assalto, medo de perder o emprego e seu posto cheio de mérito. Medo de tropeçar e cair no buraco, medo do aquecimento do globo, medo da escassez da água. Medo!
Nós não sofremos a opressão. Ainda próximos à infância já tínhamos acesso virtual ao mundo todo e, em poucos cliques, chegamos à solução aos nossos problemas de depressão, pressão alta, pressão baixa...
Comemos fast-food e achando graça do "Clô" em Brasília.
O mundo está cada vez com mais pressa e, a passos orientais, a terra vai desgastando a superfície, dia após dia, tornando-se menor a cada volta de rotação. Logo o Iraque vas ser Estados Unidos e todos serão contagiados com a Gripe Asiática. O negro vai querer parar de nascer, o branco não mais terá o que comer e, o pardo, o mulato e o verde e amarelo, estes vão dominar. Sem Clô, sem mensalão, sem Maluf; só com a cor no coração. Vai ter Bossa Nova no mundo inteiro. Samba não vai virar salsa e Pelé e Maradona serão irmãos gêmeos da fronteira.
Dá uma vontade de mudar o mundo, mas...
"-Ai que preguiça!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário