terça-feira, 12 de agosto de 2014
A(u)tu(-)ação, três versões.
Quando toca o despertador, todos os dias às 7:30, bate um frio na espinha e puxa o cobertor para o pescoço. Os ombros gelados mostram que "só mais cinco minutinhos" é sempre uma questão de saúde e bem estar.
O primeiro pensamento do dia: "Eu não quero." Não sabe exatamente o que nega, mas deflagra uma vontade imensa de misturar-se aos cobertores até que não se diferenciem mais.
Quando decide descobrir-se, tosse por alguns minutos como se as palavras estivessem indo para o buraco errado. Sente o peso do cigarro da noite anterior, da fumaça dos automóveis, da friagem na volta para casa.
Aquela sensação do peito cheio. Será catarro ou sentimentos corrompidos e sem linha lógica?
Vai ao banheiro e mal olha no espelho. Quando olha, vê partes isoladas de si. Há quanto tempo não observa como está seu rosto como um todo? Talvez essa seja mesmo uma boa maneira de não se encarar. Tira o gosto amargo da boca, toma um copo d'água, veste uma roupa qualquer que esteja jogada e parte para longe de si. Hora de estampar um sorriso e gestos largos, de fazer o mundo acreditar no mundo. Tão óbvio quanto esconder as olheiras com maquiagem fina.
Engole o sapo e o choro, engole as palavras rudes.
Deixa tudo para dentro que o estrago pode ser maior quando cai para fora de nós.
A angústia se abre quando, mais tarde, volta pra casa e encontra-se novamente com a tosse. Amarela o rosto ao demaquilar o sorriso e toma um chá quente para amenizar os danos.
Prepara o despertador entre suspiros, pensamentos e tossidas violentas. Deita-se, fecha os olhos e prega um sono tortuoso.
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Não sei nem o que dizer...
ResponderExcluirMe desanima reconhecer que nossa indiferença com a vida é comum e habitual. Ao mesmo tempo que eu compreendo tantos motivos para chegar a este ponto, não me conformo! Mesmo assim não sei bem onde eu mesma estou nesse cenário.
"ir para longe de si"
Será esse desligamento primeiro?
Será que é questão de buscar motivos?
Será que é preciso repensar soluções?
Será que é algo pra "serás" sendo que já não tem sido ou é?
Sininho...
Lembre de me alertar quando a inspiração fizer criar também revelações dos vôos e transmutações, do re-ligare a si e à própria divina vida em toda sua força. Porque agora eu fiquei em estado de tensão, desconhecendo-me outra vez.
Num "PUTZ, É MESMO!"
Gratidão pela indicação.
Lari! Acho que não é uma questão de "onde estou" em um sentido de evolução. Creio que por vezes estamos ali no acordar e pensar "eu não quero", e devemos aceitar e lidar com isso. Mas outras estamos apenas nos sorrisos falsos e a maquiagem. Creio que temos sempre algo a esconder em nós e essa é a beleza (às vezes triste)! Não importa onde estamos e sim para onde vamos!
ExcluirFico feliz por trazer-lhe uma reflexão. Que esta seja levada a algum lugar de movimento.
Gratidão pela leitura! Leia os últimos! =]