sábado, 25 de julho de 2020

Diário de Quarentena #11?

Hoje ele está organizando as coisas para ir embora. O "novo normal" está se iniciando e ele tem que ir pra uma vida longe do normal. Longe.
Juntando as suas coisas, que não são muitas, mais as conchinhas que pegou na praia, mais as coisas que compramos juntos e temos que dividir, a casa está ficando vazia. Dói um pouco por saber que não estaremos perto, outro pouco por não saber quando nos veremos novamente.
Mas uma dor que é minha e só minha é o medo de estar aqui só.
O Rio de Janeiro, que continua lindo, continua inseguro, continua em guerra. Não há em quem confiar. Admiro quem se cria em um ambiente assim sem ter medo e ainda mais quem consegue sorrir tranquilo. Para mim não está fácil porque a única pessoa em quem eu achava possível confiar aqui está partindo para de onde eu vim. Minha família está longe, meus amigos estão longe, ele vai estar longe. Não, eu é que estou longe, todos estão onde já estavam, onde deveriam estar.
É um não saber onde quer estar, o que quer fazer. Parece que vai ser sempre difícil e a culpa não é do Rio de Janeiro, ele sempre esteve onde tinha que estar.
O que eu vim cheirar aqui? Até quando vou ficar pulando de galho em galho? O que me prende ou me solta ou me arrasa?
A rua é trincheira de guerra: você encontra seus irmãos e reconhece os inimigos, se sai da rua todos os gatos são pardos e nada fica tão claro.
O que tenho é meu e o que é ter? Meu? O que eu ia dizer mesmo?

Meus discos, meus livros e meus pensamentos, nada disso é meu porque é do mundo e veio do mundo, volta pro mundo, eu sou só poeira de estrela. Não tenho discos, cafona. É tudo mp3, Youtube, Spotify.

Não posso confiar em ninguém. Não posso confiar em ninguém.
Por que eu preciso de alguém para confiar? Aprendi que não se vive sozinho, mas acho que estou correndo para o lado errado. É pra confiar em alguém? Onde estão os meus, por que eu joguei tudo pro alto?
Nada é definitivo e se estiver difícil eu posso voltar e ser aceita no meu ninho primeiro. É essa mania de não aceitar mais ou menos que me afasta de tudo o que pode um dia vir a ser.
Estarei sozinha enfim.

A força da minha voz numa canção não traduz a dor da minha solidão
Do meu medo do tempo, do erro, do céu
O mar, tão profundo, tão incerto, tão escuro
Tá fazendo sombra nos pensamentos outrora tão claros

Tá fazendo ondas de contaminação, radiação, implosão
Piuffffff
Minha cabeça gira, não para, só penso nos erros e apago os acertos
Será que foi o álcool? O tabaco? O descaso?

Golpe de vento, estelionato, extorsão, militar, miliciano
Tem coisas que a gente não sabe se sabe e nem deveria saber
Tá nas entrelinhas, nas estrelinhas, não finja que não vê!
Os amigos. Os amigos.

Aqui não se confia em ninguém, saia com as mãos para cima
A gente já espera ser enganado, ser explorado
Por que eu? Por que não? E daí?
E se precisar vai ter um monte de gente pra te atrapalhar

Tem o mar, tem a mata, tem as estrelas do mar, tem a lua clara no céu
Sem amar, quem te mata? Que beleza flutuar, a dor continua com gosto de mel

Que besteira.

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