domingo, 1 de junho de 2014

Ave Interestelar


Amo viajar. Para os lugares que vou, faço questão de carregar e deixar algo meu. Levo daqui pra lá, de lá pra cá. É um grãozinho de areia que fica comigo até que consigamos seguir um sem o outro. Então entrego tudo ao vento para pertencermos a outros lugares.
Viajar não é mudar de lugar no espaço, mas explorar o tempo: o nosso tempo.

Cada novo lugar traz consigo um novo caminho a ser explorado. Novos olhares, sentimentos, sensações. Dar o primeiro passo por uma estrada é abrir portas para as possibilidades. Devemos aproveitar essas grandes aberturas para repensar e dar outros significados àquilo que já conhecemos, vimos, vivemos.

Nossos dias são permeados de cristalizações. Tudo à nossa volta exige que tomemos decisões duras, firmes, certeiras, ainda que tudo esteja em transformação. Temos cada vez menos tempo para explorar os novos caminhos, novas músicas, um prato novo na mesa. Em vez disso, continuamos investindo tempo no que (achamos que) precisamos, postergando nosso auto-conhecimento, o que vai nos fazer entender o que de fato queremos e, consequentemente, precisamos hoje.

Onde ficam os espaços para os momentos surpreendentes? Não somos tão duros assim, tão concretos. Até quando vamos ignorar as coisas passageiras por serem passageiras? Quando foi a última vez que encontramos um velho amigo na rua e nos permitimos atrasar ou faltar no trabalho para um café e uma boa conversa durante a tarde? Não temos tido tempo sequer de possibilitar este encontro, tamanha nossa pressa e nossos olhos no chão ou no retrovisor do carro. Quando foi que decidimos que nosso estilo de vida não teria espaço para essas manobras surpresa?
Quanto mais entramos nesse ciclo de dureza, mais nos fechamos para a fluidez da vida em transformação.

É difícil assumir essa postura de inconstância. Se faz necessário praticar um desapego tamanho de nossas construções, já que muitas delas devem ser desconstruídas no processo. Vale lembrar que desconstrução não é destruição. Ao desconstruir algo, é possível reconstruí-lo de outra forma e re-conhecê-lo.

É aí que entra o explorar de nosso tempo. Aproveitar cada momento não é viver sem pensar que o amanhã existe. É pensar que o amanhã está aí justamente para trazer outras possibilidades e significados para o que nos é sagrado.

Viaje sempre. Entregue-se ao momento. Não permita mais o arrependimento tardio do que poderia ter feito e não fez, do que ficou incompleto. Hoje é um instante de um segundo ou muitos anos, e deve ser celebrado com toda a intensidade.

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