Amo viajar. Para os lugares que vou, faço questão de
carregar e deixar algo meu. Levo daqui pra lá, de lá pra cá. É um grãozinho de
areia que fica comigo até que consigamos seguir um sem o outro. Então
entrego tudo ao vento para pertencermos a outros lugares.
Viajar não é mudar de lugar no espaço, mas explorar o tempo:
o nosso tempo.
Cada novo lugar traz consigo um novo caminho a ser
explorado. Novos olhares, sentimentos, sensações. Dar o primeiro passo por uma
estrada é abrir portas para as possibilidades. Devemos
aproveitar essas grandes aberturas para repensar e dar outros significados àquilo que já
conhecemos, vimos, vivemos.
Nossos dias são permeados de cristalizações. Tudo à nossa
volta exige que tomemos decisões duras, firmes, certeiras, ainda que tudo
esteja em transformação. Temos cada vez menos tempo para explorar os novos
caminhos, novas músicas, um prato novo na mesa. Em vez disso, continuamos
investindo tempo no que (achamos que) precisamos, postergando nosso
auto-conhecimento, o que vai nos fazer entender o que de fato queremos e,
consequentemente, precisamos hoje.
Onde ficam os espaços para os momentos surpreendentes? Não
somos tão duros assim, tão concretos. Até quando vamos ignorar as coisas
passageiras por serem passageiras? Quando foi a última vez que encontramos um
velho amigo na rua e nos permitimos atrasar ou faltar no trabalho para um café
e uma boa conversa durante a tarde? Não temos tido tempo sequer de possibilitar
este encontro, tamanha nossa pressa e nossos olhos no chão ou no retrovisor do
carro. Quando foi que decidimos que nosso estilo de vida não teria espaço para
essas manobras surpresa?
Quanto mais entramos nesse ciclo de dureza, mais nos
fechamos para a fluidez da vida em transformação.
É difícil assumir essa postura de inconstância. Se faz
necessário praticar um desapego tamanho de nossas construções, já que muitas
delas devem ser desconstruídas no processo. Vale lembrar que desconstrução não
é destruição. Ao desconstruir algo, é possível reconstruí-lo de outra forma e re-conhecê-lo.
É aí que entra o explorar de nosso tempo. Aproveitar cada
momento não é viver sem pensar que o amanhã existe. É pensar que o amanhã está
aí justamente para trazer outras possibilidades e significados para o que nos é
sagrado.
Viaje sempre. Entregue-se ao momento. Não permita mais o arrependimento tardio do que poderia ter feito e não fez, do que ficou incompleto. Hoje é um instante de um segundo ou muitos anos, e deve ser celebrado com toda a intensidade.
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