Já basta!
E doem as gargantas... E vibram as cordas vocais... E ensurdecem-se vagarosamente os que fingiam não ver...
Me apaixonei sim, há muito tempo.
E agora? Agora restam as cinzas, os overs. E ontem encontrei minha vida de antes e... Ah! Que diferente sensação de não voltar no passado ao voltar no passado.
Uma incrível sensação de presente, sensação de maravilha.
Erros, erros. Quem não os comete? Pois eu os cometi aos punhados, seja passado ou presente, sempre há um erro mal contado pelo caminho e, quer saber? Não me arrepende de nada!
Não me arrependo das noites mal dormidas, das manhãs vomitando, das insanas atitudes com químicas pelo corpo. Me arrependo de ter tido medo, de ter vivido tudo quando nada deveria viver. As coisas acontecem assim e não é a primeira vez.
- Um cigarro, por favor! - Repeti mais outras vezes.
- Um drinque de pêssego e um de uva. - Já se ouve o eco de minhas vozes.
Quer saber do que eu mais gosto?
Hoje tenho corpo de mulher, voz de mulher, roupas, poses, atitudes!
Eu tenho! Tenho tudo o que sempre tive mas agora você me olha nos olhos, me segura pela cintura, agarra minhas mãos quando penso em ir embora.
Sabe porquê? Porque já não tenho medo de fazer tudo errado, já não tenho o pavor de ser ignorada ou humilhada por mim mesma cada vez que você não me vê.
É, a última vez faz tempo mesmo. Estávamos jovens, eu ainda não me preocupava com o carro, mas sim com o horário; enquanto minha mãe chorava em casa sem notícias minhas eu bebia pra esquecer que você não me via.
E agora? Agora você me olha, me sente, fala comigo, senta ao meu lado, me ensina a trucar bem alto quando tenho a carta certa.
Não me preocupo mais com a hora por causa da mamãe, mas porque quanto mais o tempo passa, mais embriagada me sinto e mais nossas bocas se aproximam. E quando chego em casa, do outro lado da linha há alguém preocupado, perguntando tudo de mim, esperando que eu reaja. Não há reação. É sempre o mesmo, sempre as mesmas palavras, os mesmos números, os mesmos comentários... E as mesmas caras, as mesmas discussões, as mesmas tentativas de se enganar para não fazer loucuras.
Eu me controlo. Eu vou embora.
E me sinto um nada novamente por não ter coragem de tomar a atitude que minha vida diz ser certa. Uma coisa à toa, que passa despercebida. Quando tudo o que eu queria era um sorriso, um olhar, um beijo.
Um beijo! O que é um beijo em quem se ama? É muito mais do que qualquer coisa, mas não, temos que nos comportar porque a rotina pede assim.
E ainda me perguntam porque me encanto com você por pegar em minhas mãos hoje, depois de tanta humilhação que passei. Sabe porque? Por que nada na minha vida tem sentido sem emoção, sem uma pontinha de novidade.
O que tem me prendido os pés no chão são as lembranças de como tudo ainda pode ser, além de meus tantos quilômetros por hora na noite vazia e cinzenta.
Não posso e não quero parar. Escolhi assim, só me falta coragem, todo o resto e uns anos a mais.
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