terça-feira, 27 de outubro de 2009


Havia um grande espaço entre um porquê e um porém e ela não era capaz de explicar.
Olhava para todos os lados, buscava uma explicação, uma palavra que entendesse seu desespero. Havia tantos sentimentos em um único coração que não caberia mais nem um suspiro apaixonado por coisa alguma, por ninguém.

Ela olhava as árvores, olhava a água do rio que corria e logo morria na grande queda de sessenta metros, tão maravilhosa. Abriu os olhos de verdade e logo viu que seguia a água e já quase voava na cachoeira para buscar as lágrimas que se perdiam entre as gotas de água fresca.

Sentiu medo e frio e quando estava prestes a se soltar na imensidão azul do céu para juntar-se às espumas da água, hesitou, parou. Sabia que, se continuasse, tudo seria perdido, e todo o sofrimento, e toda lágrima e todo o medo seriam em vão. Sabia também que se voltasse e encarasse, provavelmente nada adiantaria. Seriam os mesmos cortes, as mesmas marcas, as mesmas lembranças. (Seriam?)

Deu mais um passo, mais uma lágrima. Olhou para baixo, olhou seus pés. Nunca se havia encontrado tão próxima da morte. Seus cabelos compridos e mal tratados agitavam e às vezes escondiam seus olhos vermelhos, fundos. Estava em luto, em luta. Contra si, contra as lágrimas, contra seus pés, contra os cabelos.

Juntou as mãos ao peito, como se uma imensa dor a tomasse por dentro. Lágrimas incessantes. Agachou-se fazendo seu vestido arrastar nas pedras úmidas e escorregadias. Encharcou-o. Sentiu a água absorvida pelo vestido tocar suas costas. Sentiu mais frio, um frio na espinha, uma vontade de gritar, de chorar, de fugir, de tudo. De dar o próximo passo. Levantou-se e pensou em voltar, ficou imóvel.

Voltou o peso de seu branco corpo para o pé direito, que estava à frente. Não via esperanças atrás de tudo o que já havia passado. Era cética de Deus, das pessoas. Queria apenas colocar um ponto final no ciclo sem sentido que todos fazem questão de enfrentar.

Os pássaros de mais belos cantos cantavam e perdiam-se na imensidão verde e molhada onde ela estava. Ouviu um pássaro cantar seu nome e olhou que a chuva acabava de começar a cair sobre as pedras e folhas. Fina, branca, refrescante. E aquela garoa que a molhava a fez fechar os olhos e ouvir novamente o pássaro chamar seu nome.

E escutava atentamente como o pássaro pronunciava seu nome com um quase imperceptível sotaque avícola. Falava todos os fonemas de cima de uma árvore que tinha as raízes um pouco abaixo de onde ela estava, mas seus galhos altos alcançavam o lápis azul que pintou o céu.

Ela sorriu e tomou a água que do céu caia tão levemente.

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