Frustrar nossas expectativas é um processo entre lindo e enlouquecedor.
Só nos decepcionamos porque criamos expectativas sobre as coisas.
Só nos relacionamos porque criamos expectativas sobre as pessoas.
Isso porque o que vemos nunca é o real, é projeção, é aquilo que imaginamos e construímos a partir das nossas referências. Eu não consigo compreender o que você é, somente aquilo que posso compreender em meu repertório de ações. Uma pessoa leiga em música, por exemplo, pode ter dificuldade em distinguir sons de instrumentos que não sejam parte da cultura e sociedade onde está inserida. Já alguém que seja parte daquela cultura terá mais facilidade para distinguir, reproduzir e compreender os diferentes sons de maneira singular. Outra forma mecânica de ter esta habilidade é a partir do estudo da técnica e da percepção musical: um treinamento para a audição, menos afetivo, portanto menos intuitivo.
Quando uma expectativa é frustrada, é o momento em que temos a possibilidade de ampliar nosso repertório, enxergando um pouco além daquela superfície onde projetamos o que era nosso, ainda que muito enviesado e distorcido pela própria experiência. Ao mesmo tempo, temos a oportunidade única de sair do torpor e entrar em contato conosco e enxergar o que nos levou a construir aquela imagem virtual.
Todas as relações são virtuais, a partir deste ponto de vista. Atualmente podemos quase palpar esta virtualidade, já que estamos a um clique de assumirmos identidades completamente diferentes do que somos no dia a dia. Se isso por um lado oferece riscos, por nos deixa à mercê daquilo que não existe e pode ser sobreumano ou desumano, por outro, oferece oportunidades. Podemos ser o que quisermos, performar e variar da forma que couber em cada momento e ambiente. Sou aquilo que quero ou preciso ser em cada momento.
Passando do mundo virtual, metafórico, simbólico, para o mundo real, como acontece com a poesia, o teatro a música, posso ressignificar e dar sentido para as diferentes formas que me permito assumir, ou seja, se me permito circular e performar de maneira exploratória e indefinida por diversos caminho virtuais, com alguma reflexão e espaço passo a fazê-lo no dia a dia, onde costumo chamar de realidade.
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