quarta-feira, 30 de abril de 2014

Ismália Entorpecida

Um organismo já fragilizado pela falta de costumes.

Era uma dessas noites de primavera que às vezes invadem o inverno gelado. Lembranças também invadiam seus pensamentos.
Era como uma ressaca alucinante de ideias. Coisas que passaram, atitudes que não podia entender começam a ser explicadas. Tanto medo, nostalgia, interesse... E queria sair correndo pela rua sem rumo certo e chorando e gritando e encontrar alguém que lhe trouxesse um pouco de paz. Onde você está? Quem é você?
E agora nada disso parece mesmo fazer sentido. Algo em seu estômago lhe diz que o coração quer pedir licença para bater quando quiser. Algo que parece uma dor, parecem borboletas que voam desesperadas. E quando fecha os olhos quase lhe vêm lágrimas, soluços e soluções drásticas, mas nada acontece Tudo apenas escurece e os pensamentos não param. Nunca. Do resto está tudo parado.
Fluxo contínuo de palavras e ideias. Nenhuma frase formada, apenas tudo jogado e embaralhado, tudo misturado. Tudo o quê? Sem essa de sentimento, não!
A mente girando, movimentos acelerados e olhares lentos. No fundo sabe-se que nunca se dá conta daquilo que se chama limite. Imponha! Lute! Voe! Toda atitude é só uma forma de resistência a alguma coisa, sempre!

Mas quando abre os olhos novamente não há nada. Uma cama, roupas pelo chão, um espelho sujo e uma semana de alimentos enlatados. Não saia daí de dentro. Um surto. Um medo.
E sabe: não há por que se importar, mas quando tudo está em movimento, a gente não sabe se é o mundo ou a gente que se mexe. Agora olhe nos olhos de alguém e tente encontrar alguma explicação que realmente satisfaça por mais de sete dias.

Sair do mundo do futuro e entrar em um mundo que gira mais devagar escrevendo asneiras às três da manhã é tão perigoso quanto uma corda bamba sem rede de proteção. Já imaginou? A realidade paralela que te torna paranoico e entretido por imagens é a mesma que te explica com tapas na cara suas atitudes inúteis e inexplicáveis.

Não passava pelo vitrô de seu quarto dos fundos, caso contrário, atiraria-se do térreo para as estrelas.

Queria a lua do céu/Queria a lua do mar.

E no espelho encontra a solução de quem não sabe o que quer, mas continua buscando.
Se matou a poesia de seus tempos, peça-lhe o favor de parar de pensar em controlar tudo. Mas o gosto amargo e estrondoso em sua boca ainda faz lembrar como as coisas eram iguais. A guerra está mesmo para acabar?

Riso louco, vontade de nada além de sorrir sem se importar com o mundo. Olhares vagos e sem expressão, apenas olhares, como podem ser, e um pouco de urânio enriquecido.
Nunca fez sentido. Por que faria dessa vez?

(escrito em agosto de 2010)

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