Um instante de romance

Ele pegou o violão com o pouco que sabia e começou a tocar.
O que sabia era tão pouco que tocava uma música de quatro acordes com a cifra na sua frente. Era só uma música bobinha, fácil, boa para treinar.
Durante a canção, ela foi se aproximando, ficou parada em pé por alguns segundos em sua frente. Logo deu alguns passos e sentou-se ao seu lado com os olhos brilhantes que observavam, ouviam.
A princípio pensou que ela lhe queria dizer algo, tendo em vista que nunca se aproximava assim, sem nenhuma intenção. Terminou a música, mirou sua expressão de satisfação.
- Fala. O que foi?
- Nada, eu só gosto dessa música! Você está tocando sempre agora né?
Sem pensar, ele a repetiu, mostrando agora a letra para que ela o acompanhasse cantando.
Não cantou, apenas leu.
- Linda mesmo essa música. Deixe-me ver se sei mais alguma que você conheça. Ah! Aqui! Essa!
Tocou. Havia algum tempo que não tocava aquela, fez o possível para não errar. As cordas ajudaram anulando o triste trastejar de um violão velho e mal cuidado.
- E aí? Você conhece essa? É bonita, não? Fala da guerra!
- Ah, conhecer não conheço... O refrão não me é estranho. Mas não sei cantar nem nada.
- Posso traduzir para você, a letra é linda.
- Hum. Não sabia que você estava tocando tão bem, cantando tão bem e seu inglês estava tão bom.
Ele estende a mão:
- Prazer, mãe! Nos conhecemos há 22 anos e ainda temos tanto a saber um do outro...