Com o tempo...

Com o tempo a gente cansa...
A gente cansa de servir quem não serve pra gente...
Cansa de levar em conta o que o nosso coração acha, porque quem realmente importa pra gente, não se importa com ele, joga ele no chão...
E ainda cansa de se desprender do supérfluo para poder sentir a intensidade das coisas... Porque o brilho das cores se perde no ar logo quando era para estarmos brilhando também.

Com o tempo a gente desiste...
Por mais difícil que seja admitir, existe o fim da linha...
A gente desiste de simplesmente ser, passa a querer mais, a correr atrás do que faz sentido no momento em que faz sentido...
Mas logo em seguida percebemos o que é possível e o que não é, largando mão das esperanças.
E vivendo o momento presente com tanta intensidade e metamorfose, desistimos de criar algo concreto. Que tudo o que é concreto não se dissolve no ar, simplesmente fica.

Tanta vida pra tão pouco tempo.
A vida é intensa e pobre daquele que, tal como eu, escolheu senti-la.

Já quis pular do braço do sofá e sair voando. Já pensei em partir a cabeça ao meio para tirar você de lá de dentro. Hoje eu apenas abro os braços e deixo que tudo aconteça.

Cansada, me sinto cansada.
Cansada de lembrar do desenho dos seus olhos que eu via quando estavam pertinho dos meus, lembrar dos traços que formam seu rosto de perfil, lembrar de como você segurava minhas mãos acariciando-as, lembrar como você me ligava e contava seu dia, me chamava para jantar, para ver um filme, lembrar de como você dizia "Tudo bem" e mordia os lábios segurando a respiração quando eu dizia não.
E cansada de ter que implorar um beijo em público, implorar para que segure minha mão quando anda ao meu lado, implorar para que me ligue quando acorda, implorar para ficar por perto...

Realmente cansada e finalmente conformada.
Agora são somente os arranjos que se toca no final da música enquanto diminui-se o volume...
É só continuar no mesmo ritmo, no embalo do refrão... E fim!