quinta-feira, 17 de setembro de 2009




Passou um longo tempo. Anos reais, séculos em meu pensamento. Mas ainda me lembro como se fosse hoje à tarde.

Namoro de escola, infantil.
Nós dois sentados na arquibancada da quadra assistindo ao treino de vôlei. Você me abraçava e eu sentia o perfume na sua blusa, o perfume de menta da sua boca. E você falava de nós, e você dizia que me amava, lembrava do nosso primeiro beijo e sorria, e me fazia sorrir. Lembrava que a gente tinha vergonha, que você me mandava bilhetinhos durante a aula e ninguém podia saber. Um dia no intervalo seus amigos e minhas amigas juntaram-se a nosso favor. Fizeram tudo acontecer finalmente, depois de tanto penar...

Era bom estar em seus braços. Eu com apenas treze anos sentia medo de gostar de você. Você conhecia as mais lindas garotas. Todas conquistava com um olhar - olhar verde e brilhante que só você tinha - sua mania de abraçar, seu perfume, seu hálito sempre fresco, seu sorriso.

E eu tive medo. O medo que uma criança sente quando seus pais saem de casa e a deixam sozinha pela primeira vez. Um dia eu disse não, mesmo não querendo. Não pensava em mim, pensava em tudo. Sempre gostei de mudanças radicais, nunca me acostumei a ser uma só, e como você, com olhos tão verdes, acostumaria-se com meu amor pelo novo? Fui embora. Você me olhava de longe e falava na frente de todos que me amava e eu já não mais te queria. Fez tanto drama que eu acreditei ser mentira sua.

Meses depois houve uma festa. Aquela festa a que todos fomos em trajes sociais, eu com um vestido comportado de minha mãe(que em meu corpo magrela de menina ficou tão folgado) e uma sandália alta que me fazia lembrar uma mulher, e você. Camisa, calça e sapato sociais provavelmente emprestados de seu pai ou seu primo. Dançamos como se não fossemos parar antes das quatro da manhã. Juntamos amigos e amigas, todos guardavam um apreço enorme por nosso romance, todos imaginavam nosso casamento enquanto nós só queríamos nos conhecer cada vez mais. E eu te conhecia com os olhos enquanto dançava, palavras não diziam mais que eles naquele momento. Já para o final da festa - quando nem bêbados estávamos devido à pouca idade, mas suávamos de tanto dançar - me chamaram na varanda do salão. E lá estava você.

Não acreditei que fosse tão difícil te ver chorar e te abraçar e sentir tuas lágrimas em meus ombros. Na frente de seus amigos, que não se sentiam mais crianças, você chorou. Seu olhos verdes brilhavam mais e estavam vermelhos. O abraço demorou mais do que o normal e você me segurava na cintura como se nunca fosse deixar-me ir.

E foi a última vez que ouvi da sua boca palavras direcionadas a mim.
Acabou. Não só nosso romance de criança, mas sua vida. Entrara em um buraco onde só havia más companhias. Um dia tirei um cigarro da sua mão e chorei e perguntei se aquilo era para chamar minha atenção e como resposta ouvi um sim, seguido de poucas palavras que me culpavam tanto. Você disse que a princípio achou que aquilo me traria de volta, mas que agora o que queria era entrar mais e mais naquilo, nada mais queria comigo.

Eu chorei dias e dias. Por anos pensei em uma forma de tirá-lo dali, já que eu o levei.

Felizmente percebi que não dependia de mim, mas sim de você, que cada vez afundava mais, cada vez pior.

Durante os três primeiros anos sonhei com você todos os dias. Sonhava com sua recuperação, com sua morte, com seu carinho...Sonhava.
Enfim pensei que houvesse acabado, mas por que não?
Ainda hoje sonho com você ao menos uma vez por semana.
Fosse pelo que fosse. Ainda quero te encontrar, ver se ainda me reconhece.
Com menos de vinte anos anos passara por tantas coisas; desde drogas, sexo até roubos e delegacias. Quando isso vai acabar? Quando você vai se lembrar de quantas garotas o amaram? Quando vai aparecer em sua memória meu telefone, meu endereço? Hoje já é um homem, mas ainda guardo em mim uma lembrança do menino que certamente ainda existe aí dentro.

Espero o dia em que você vai se lembrar de quem foi, de seus pais, sua irmã...
Ainda tenho vontade de procurar seus olhos por ai ou por aqui, mas creio ser tão frustrante quanto sempre... Creio ser apenas real.

E me dói tanto vê-lo assim e ter tanto a pensar e você tanto a dizer.
Sinto sua falta, apesar de todos esses anos de amadurecimento.
Hoje, mesmo noiva, não mudou minha rotina. Tenho os mesmos sonhos e a mesma vontade de ser alguém, de te ajudar.

Dessa vida não passo sem trazê-lo de volta.
E vamos à luta!

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