
Acordo, respiro o ar do Sol que bate em minha janela e em tantas outras. O pouco que invade a persiana me toca, me conquista.
A água que bebo é a da bica da ilusão. Sorrio. Ilusão é sempre boa antes de ser ilusão.
E subo ao telhado, vejo as nuvens. O Sol, que antes me tocava em partes, agora me toca por completa, despindo-me de cada receio. Novamente sorrio. Respiro fundo e sinto entrar em meus pulmões toda a vida.
Vinda da terra, da água, do ar e do fogo, devo graças à imensa natureza que ali não me enxerga.
Executo minha meditação. Ao som da queda d'água, as aves voando e as árvores cantando.
E medito a ação de cada ser, em cada instante. Medito cada uma de minhas ações.
Leve, sobrevôo o poder do espírito, reconheço meu insano ser querendo voar.
E voa. Vai às nuvens, viaja nas enormes asas de uma borboleta azul, bem grande. De cima vejo os andes, as muralhas, os picos do mundo.
Larga-me no alto. Em queda livre desço ao fundo do mar. Agarro-me em uma barbatana cinza e assim percorro todos os oceanos em apenas alguns minutos. Entro nos corais e na boca de uma baleia. Dali sou espirrada por um jato.
Afogo. Desmaio. Acordo na areia da praia, sentada no casco de uma tartaruga centenária. Ouço mil e uma verdades, conheço cada ponto do mundo. Em minutos, após conhecer tudo, joga-me em um buraco sem fim na terra.
Tento segurar-me nas paredes, fazer com que meu corpo não se bata nas duras rochas pelas quais passo. Mas continuo caindo por muito tempo. E está cada vez mais quente.
Fecho os olhos. Não quero ver meu corpo queimar, meus ossos quebrar. Quando os abro, estou deitada em cima de uma minhoca. Então conheço os tipos de rocha que ninguém conhece. E do núcleo terrestre aproximo-me mais do que qualquer homem já se aproximou. O núcleo da terra queima mais do que o Sol, mas eu não sinto queimar.
E aos poucos volto, mais rápido do que fui, porém com mais leveza. Não sinto dores, só minha alma.
E um enorme prazer por ter conhecido tudo, e não conhecer nada.
"Viver é evitar os acontecimentos, num é?"
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